Melancolia...

"Ah quanta melancolia!
Quanta, quanta solidão!
Aquela alma, que vazia,
Que sinto inútil e fria
Dentro do meu coração!"
(Fernando Pessoa)

Uma vez disseram-me melancólica! Eu aceitei, convencida de que era verdade, esse rótulo inquietante! Hoje, decidida a escrever sobre isso, sinto-me extremamente decepcionada. Fui primeiro ao dicionário, certificar-me que o termo tinha o significado que eu atribuía a ele. Ledo engano! Melancolia significa uma tristeza imensa... Se fosse hoje o termo ideal seria depressão. Não, esse não é o significado da crítica que recebi! Aquela fala, não se referia a minha tristeza, mas a minha alegria em fazer memória! Era isso, gosto de lembrar e relembrar incessantemente os bons momentos que vivi! Isso aceito e reforço.
O risco é prender-me demais ao passado, alguém poderia dizer. Mas, escolhi a História como profissão e a juventude por vocação... Seria essa uma ligação perfeita entre passado e futuro? Mas não vejo a juventude como futuro, aliás, apesar de ser uma sonhadora (ou de esperar ser merecedora desse dom), não gosto de esperar o futuro, parece acomodação! Essa seria, para mim, então, a ligação perfeita entre passado e presente!
Mas a minha melancolia, ou o meu saudosismo, que seja, por vezes me arranca sorrisos do nada! Como é bom perder-me em pensamentos mais coloridos que a realidade de agora... Perder-me em lembranças de lugares incríveis, de pessoas maravilhosas, de lições inesquecíveis!Adoro remexer a poeira de minhas memórias... É como se o fizesse para não esquecer, para não perder aqueles cheiros, sons e sabores em algum lugar inalcançável! E há tanta vida... Esse é o meu maior tesouro, saber que os poucos anos que vivi, os vivi mais intensamente que muita gente que tem três vezes mais idade que eu! E mais que isso, descobri muito cedo que viver intensamente não é fazer uma porção de besteiras, mas fazer tudo o que se quer e querer de todo o seu coração aquilo que a vida tem de melhor pra você!
È difícil admitir, mas a minha melancolia (saudosista) é, também, uma tentativa de não ver aquilo que me falta. Não deveria admitir como me sinto... Isso é deixar-me invadir! E parte de mim permanece intocada e resguardada! Entretanto ao mesmo tempo, entendo que enxergar o vazio talvez seja o único meio de preenchê-lo. E existem muitos vazios em mim!

Faltas irrecuperáveis... do abraço daquela noite, do passeio de bicicleta, do pôr-do-sol que não se viu! Daquela canção que não se escolheu! Daquele sabor de sorvete... Da briga e da porta batida atrás de mim, do pedido de desculpas e da tranqüilidade da paz retomada, que não aconteceu... Da ligação no meio da noite, da preocupação e da insônia que não se fez em noite alguma... Da história que ninguém contou e eu teimosamente inventei! É melancolia por aquilo que não existiu!