terça-feira, 16 de outubro de 2007

O RENASCER DA MENINA

A menina passou por situações devastadoras, tempestades internas e grandes descobertas... Viu as máscaras cairem e as pessoas se mostrarem amorais e más! Ela viu a confiança ruir... Viu gente jogar com o mais importante. Viu outros colocarem em risco o mais valioso... E viu alguns intrometidos fazerem o próprio jogo!

Primeiro ficou perplexa... Depois triste com tanta decepção, ficou amoada e foi buscar forças naqueles em quem confiava! Arrumou as malas e depois de tanto tempo voltou pra casa...ainda na porta viu seus olhos encherem-se de lágrimas e atirou-se ao colo quente de seu pai! Homem simples e sábio, rude e grosso, mas que a havia ensinado sobre ética e justiça! Ele riu-se dela e ela o encarou seriamente...
- Eu sabia que isso aconteceria com você, você tem um coração muito inocente, menina!
- mas o que mais podia fazer que não entregar-me inteira?
- Podia fazer como os outros e não confiar, podia ser como os outros e não se entregar, podia ser uma pessoa mais esperta!
- Não acho que a esperteza seja algo de que as pessoas possam se orgulhar quando a usam dessa maneira!
- Mas você precisa aprender a se proteger!

Ela silenciou, sabia que ele tinha razão e que era essa a postura que deveria ter...mas dentro dela algo gritava contra isso! Resolvera calar-se e esperar...talvez o tempo curasse as coisas, talvez o embrulho e o nojo passassem... como ela não tinha visto que tudo era uma farsa?

Ao fim da tarde, o pai a chamou a varanda de onde viam um enorme terreno... O céu estava escuro e a lua nem aparecia...ela não lamentou, já havia descoberto que as estrelas brilhavam dentro dela! Ela trazia nas mão algumas lembranças que preferia esquecer! O Livro da capa preta, as cartas, algumas fotos, um cd, as canetas, e uma página arrancada de um livro!

- Gostaria que você me ajudasse com isso...
- O que é isso?
- Tudo o que eu preciso matar em mim!
- E como você pretende fazê-lo, menina?
- Muito já morreu, mas falta afastar aquilo que ainda posso ver e que só representa o fingimento... Não quero mais olhar nada disso, não quero mais ter isso por perto!
- Dê para alguém, então!!!
- Não! Algumas coisas precisam de ritos para serem esquecidas! Quero ver cada uma dessas coisas sumirem! Deixarem de existir!Assim tudo terá se apagado e só assim poderei ainda ser quem eu sou, sem me permitir que nada dele permaneça em mim, não quero nenhuma lição, nenhum resquício... NADA!
- E como você pretende fazer isso?
- Não sei, papai, é aí que você entra...
- Algumas coisas não se apagam, minha filha! Por mais que doam, não se apagam...
- Mas podemos esquecê-las, não é?
- Não sei... Sei apenas que quero poder fazer você sentir menos dor!
E ele a abraçou mais uma vez... saiu em direção ao terreno e passou um tempo sumido... Voltou com o braço cheio de galhos e começou a fazer pra ela uma enorme fogueira!
Era assim que as coisas desapareceriam... arderiam até sumirem, virarem pó! Sumiriam naquilo que ela mesmo havia se descoberto - deserto, calor, fogo!!!

E vendo cada coisa queimar, a menina foi sentindo-se renascer... Era como voltar a ser dona de si mesma! Livrou-se daquele lixo... Livrou-se do peso... Esperou até que as chamas e brasas se apagassem e que tudo, tudo mesmo sumisse....dirigiu-se ao quarto, tomou um banho, arrumou-se inteira... Fez a mala e resolveu que partiria para outros lugares em breve...nada havia ficado pra trás e ela poderia voltar a ser quem ela era! Intensa, inteira, entregue!

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