domingo, 25 de março de 2007

As lágrimas agarradas ao olho, a garganta seca arranhando, a barriga tensa, e um buraco dentro da menina. Nada é suficiente e nunca foi. Nem ele nem ela, nem ninguém. Ela inventava amores impossíveis todos os dias. Tudo dava errado todos os dias. Ela se conformava em não ser exatamente quem gostaria e em nunca ter o que queria. E tudo que ela queria era o colo dele e seu mimo... era ser ninada por ele até o sol reaparecer em sua vida. Tudo estava escuro há muito tempo e não havia riso suficiente para iluminar mais nada. Ela estava um caco e talvez fosse mesmo um.

Doeu ouvir que precisava admitir que sua vida estava uma merda. E está mesmo. Não agüentava mais a vida assim. E queria ser diferente, outra, mais forte pra ela mesma, menos sentimental, mais distante e fria.... Outra que sentisse menos dor! Outra que fosse mais apaixonante (menos apaixonada), outra que não precisasse implorar, muito menos chorar sozinha. Outra que não ficasse derrotada com as coisas mais absurdas e simples da vida. Queria se reinventar mas nunca fizera nada novo. Queria forças pra isso, mas nunca tivera forças suficientes pra conquistar nada na vida! Não queria mais as derrotas. Queria vitórias só dela! Queria vencer o que era e ser outra! Queria o que os outros tiraram e ela deixou sem luta alguma. Queria um processo catártico que a curasse. Queria ir a luta por ela e por mais ninguém. Descobrir o real amor e vive-lo pra si. Queria ser a pessoa que ela procurava. E esquecer a farsa que se arrastava por tanto tempo. Queria ter coragem pra ir além e ser outra. Outra que se pintasse com nuances mais vivas. Outra que refletisse no espelho quem é a uma que se esconde! Não agüentava mais viver as crises e não evoluir com elas. Aprendeu muito nova a se conformar com pouco e a implorar o amor. Não podia mais viver assim. Não queria mais viver assim há muito tempo. Por que uma coisa tão pequena dói tanto? Porque uma coisa tão pequena dói tanto? Porque uma coisa tão pequena dói tanto?

Torceu pra estar certa e vê-los juntos naquela noite. Agradeceu por ter tomado a primeira decisão sem expectativas dos últimos quinze anos e por ter, pela primeira vez pensado só em si mesma. E jogado só com as suas armas. E sorriu ao perceber-se dona da primeira mudança.

Chegou à beirada da janela e pensou que seria mais fácil se tivesse coragem. Talvez fizesse as malas e desaparecesse. Se reinventar enquanto os outros observam era mais difícil. Se reinventar enquanto os outros cobravam as mesmas posturas viciadas era muito mais difícil. Mas não podia mais esperar que em alguns meses sentisse a mesma dor e a mesma decepção já sabida. Que encontrasse mais uma vez uma mensagem perdida, uma declaração que não era para ela. Precisava ser a prioridade e dessa vez ela seria. E dessa vez seria a última em que faria o papel de vítima. Cansou de verdade. E usaria toda a sua força para virar o jogo. Ela nunca gostou de perder. E por isso acostumou-se a largar a partida antes da primeira derrota... Mas agora estava preparando-se para guerra. E ia, assim como num jogo de xadrez, pensar algumas jogadas a frente. Se tudo isso era uma grande batalha ela ia se preparar para ganhar. Ia tomar nas mãos as armas que lhe coubessem. Ia sujar-se se preciso fosse... Ia virar a mesa, erguer a cara, secar o rosto, respirar fundo e partir pro maior encontro de sua vida! Dessa vez ia encontrar-se com ela, nem que pra isso precisasse se afastar do mundo!

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