terça-feira, 12 de dezembro de 2006

A menina acordou apressada. Era dia de fechar as malas, colocar as últimas coisas nas caixas e partir. Ir a qualquer lugar já seria de bom tamanho... Mas ir até lá, era bom demais pra ser verdade. Quando recebeu o convite chegou a duvidar, e esperou meses até que tudo se confirmasse. Pediu demissão, despediu-se dos amigos e preparou-se para partir. Só dele ela não conseguiu se despedir, não do jeito que gostaria! À medida que o dia se aproximava mais silencioso ele ficava. Hoje, não haveria mais jeito e ela teria que dizer um adeus sem graça entre tantos outros “adeuses”. E partiria arrependida por não ter feito tudo diferente... Ele a acompanharia até o final, veria a se afastar e lamentaria ter sido o medroso de sempre. Todos sabiam a verdade, mas ninguém tinha coragem de dizê-la em voz alta. Ele jamais admitiria, ela não se permitiria sentir e a vida passaria assim... Não fosse a pressa da menina em seguir a vida, talvez um dia, o silêncio cansaria e falaria por si só.

Ela colocou a melhor roupa, e penteou os longos cabelos que seguiam até o meio das costas, perfumou-se e sorriu diante da imagem do espelho. A muito já não era uma menina... Mas que importava isso? Rodopiou em volta de si, sentiu-se tão segura, treinou a frente do espelho tudo que havia de dizer. Olhou a janela e lamentou não correr até a casa dele e dizer-lhe agora. Respirou fundo e acomodou-se ao sofá.

Nem lembrava ao certo como haviam se aproximado. Todos diziam que eram como água e óleo e não poderiam se misturar. Mas depois de uma tarde juntos, nunca mais se separaram. Ele demorou a invadir seu coração inabitado e um pouco frio demais, mas sabia bem que caminhos tomar. Era de um cuidado com os detalhes... Nunca havia esquecido nada que a menina houvesse sinalizado, estava atento a cada coisa. Fora um dia, menino de cabelos cacheados, rosto redondo, sorriso largo e encantador. Ela jamais esqueceria aquele sorriso e a luz que os olhos dele irradiavam. Era uma felicidade tão natural que ela desconhecia. Ele chegava ao lugar e imediatamente reuniam-se as pessoas, tinha magnetismo o menino. E foi assim que aos poucos ela se sentiu atraída, não a atração de agora, mas ainda assim não podia se afastar. Só que ela era tão fechada que por vezes parecia indiferente. Tinha palavras secas e raros sorrisos. Falava pouco, mas expressava-se muito bem. O menino foi deixando-se ficar e retirando devagar as máscaras que ela usava. Ensinou-a tantas coisas, ela não seria capaz de enumerá-las. O menino era encantador em tudo, só ela não via. A menina era encantadora em tudo e só o menino via!

O dia correu tão rápido que mal tivera tempo de comer. Ficara sentada no sofá tempo demais se lamentando. Apressou-se mais uma vez... Já estava pronta quando os amigos chegaram para levá-la até o embarque. Ela separou o livro de capa preta junto à bagagem de mão, há anos ele havia lhe dado, disse que era pra que não se sentisse sozinha nunca. Ela sabia bem que precisaria daquele livro mais que todos os outros dias de sua vida. A primeira chamada para o embarque se fez. Ela abraçou a todos e o deixou por último. Deram um abraço forte, em silêncio profundo e ela partiu. O silêncio gritava, mas eles fingiram não ouvir.

3 comentários:

Anônimo disse...

Deixou de produzir manufatura e agora só em larga escala?

Bom texto!

Bj.

Anônimo disse...

Gostei do Seu blog amiga!
Eh vc aparenta ser muito inspirada!
Parabéns

Lupos, Canis disse...

eu quero a continuação disso.... agorqaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
huhuhuh isso da um livro sabia??