Chegou exausta naquela noite. O trabalho havia consumido todas as suas melhores energias. Mas ainda havia algo por fazer, então tomou um banho rápido, vestiu as sandálias novas e partiu. O jantar foi melhor do que ela previra. As pessoas de lá tinham se tornado mais interessantes. O papo rendeu e ela se permitiu ficar um pouco mais. Andava mesmo precisando relaxar, fazer nada e se deixar ficar perdida em papos que nada acrescentavam a sua moral. Acabou bem antes do que esperava, por isso partiu meio frustrada pra casa. Ligou o pc e foi imediatamente conferir os recados do sistema de mensagens. NADA! Tinha lá um e-mail antigo que ela releu... Mas nada que fizesse seu coração se alegrar. A verdade é que andava bem de saco cheio dele. Sabia que esse era um sentimento pobre, mas era exatamente o que estava sentindo e não sabia lutar contra isso. A verdade era uma só: Ele a irritava! As manias bobas, a necessidade de parecer especial e mais esperto que os outros mortais. A menina andava mesmo cansada de tudo isso. Ele era soberbo demais! Naquela noite, o texto tinha soado igual a tantos outros, a voz ao telefone estridente demais. Tudo nele a afastava e ele, meio desligado como sempre, não via! Ela se deitou na cama e se encolheu... talvez não precisasse embarcar naquele avião, talvez aquela irritação toda fosse só uma desculpa pra não ir dormir sentindo saudades dele. Saudades do corpo envolto, adormecido e protegido. Saudades do tempo em que, todas as noites, ela adormecia sob os olhares atentos dele. Saudades de um tempo em que estavam tão juntos que eram um só e portanto irritar-se com ele era irritar-se consigo mesma! A verdade era uma só: ou arrumava outro amor, ou mataria nela a lembrança do que de melhor haviam construído!
Dormiu, acariciando os cachos que lhe caiam a testa, cansada demais pra tentar entender.



Saudade de ti!