terça-feira, 14 de agosto de 2007

Mais uma vez....



A menina estava tendo uma vida movimentada, coisa incomum em sua rotina. Não estava tendo tempo de pensar as enormes transformações que a alcançavam. Depois de tanto anos “seus processos catárticos” serviam para aproximá-la das soluções. A tristeza e a saudade ainda rondavam seus pensamentos, especialmente quando se deitava sozinha na cama. Aquele era o pior momento do seu dia, por pior que fosse o dia. Era ali, diante da cama grande demais, que sentia todo o vazio que buscava desesperadamente preencher enchendo a agenda. Naquela noite, ela era o deserto. Apesar dos avanços e ela agora começara a senti-los, ainda era o deserto: inconstante, incerto, perigoso e com uma beleza raramente observada. Talvez essa fosse à questão... Passou a vida achando-se mar profundo e agora, via-se um deserto de poucos oásis.

Levantou-se, se aproximou da gaveta e alcançou o livro, seu refúgio, folheando-o achou uma foto que havia há muito esquecido. Dela e do menino com olhares que incendiavam o papel e um abraço tão verdadeiro e seguro como ela ainda poderia lembrar.... Por quanto tempo ainda se lembraria? Talvez as sensações também perdessem o colorido ao longo dos anos. Assim como aquela foto também perderia um pouco da cor, será que o sabor daquele abraço poderia de algum jeito se apagar na memória dela?

Sentou-se a cama e passou um longo tempo escrevendo no livro de capa preta. “Falou-escrevendo” de memória e saudade, de perdão e de melancolia... Sentiu falta dos adesivos da infância (só para que o texto também pudesse ter mais cor e quem sabe mais brilho). Falou dela, mais do que estava acostumada, especialmente quando ela era a sua própria ouvinte.

- Ser deserto! (repetiu para si mesma) Esconder a beleza só para os que sabem ver! Parecer árido demais e, no entanto, estar repleta da vida mais desconhecida! Seco, difícil, parado demais e, entretanto, movimentando grão por grão até que montanhas inteiras estivessem em outro lugar! SER O DESERTO! Talvez esse fosse o segredo de sua alma. Arder durante o dia e congelar a cada anoitecer!

Foi então que uma pergunta a fez calar-se internamente: Se essa fosse mesmo sua natureza, estaria mesmo fadada a solidão de noites gélidas ou só a espera de um explorador atencioso?

A menina abriu a janela e lamentou não poder ver as estrelas... Mas confortou-se: no céu que guardava em si, as estrelas eram vistas como em nenhum outro lugar!

2 comentários:

Lupos, Canis disse...

O.O
preciso aprender a escrever assim mané
^^lindo
bjs mana

Marcela disse...

chiquérrima e tremendo na base.
você vai? ai, diz que vai!

(desertos podem ser a sua única salvação de noites gélidas sem estrelas.)